PULGÕES
 Tudo indica que os livros de Biologia sofrerão nova revisão este  ano, principalmente no que tange à diferenciação entre animais e  vegetais. 
Afinal foi confirmada a capacidade da superfamília dos afídeos de  realizar fotossíntese  de acordo com o artigo “Light- induced electron  transfer and ATP synthesis in a carotene synthesizing insect”  publicado  na revista Nature desta semana pelos pesquisadores franceses Jean  Christophe Valmalette, Aviv Dombrovsky, Pierre Brat, Christian Mertz,   Maria Capovilla e  Alain Robichon.
A superfamília dos afídeos, que incluem os pulgões apresentam   características no mínimo desconcertantes.  Além dessa suspeição de  captar DNA de outros seres, são capazes de realizar partenogênese. Em  outras palavras as fêmeas dessa superfamília procriam sem precisar de  machos que as fecundem. Assim, as fêmeas podem nascer grávidas e depois  parir essas crias que também nascem grávidas, e assim sucessivamente. 
Agora, essa insólita superfamília figura também na galeria dos seres  autotróficos. Em outras palavras são capazes de realizar a elaboração de  nutrientes, de maneira análoga a das plantas, por meio de um processo  muito similar ao da fotossíntese.
De acordo com o citado artigo da Nature esses insetos são os únicos  entre os animais capazes de sintetizar pigmentos chamados carotenoides.  Pigmentos esses, típicos de vegetais, responsáveis pela regulação do  sistema imunológico e também pela elaboração de grupos de vitaminas,  tais como a vitamina A, por exemplo.
Sem dúvida é uma adaptação singular do fenótipo dessa espécie de afídeo denominada Pisum acyrthosiphon,  com comportamento selecionado em condições de baixa temperatura e  caracterizada por uma aparição notável de uma cor esverdeada que se  altera para o amarelo-avermelhado. 
A produção desses pigmentos carotenoides envolvem genes bem  específicos responsáveis, por exemplo, pela ação de cloroplastos típicos  dos vegetais  e surpreendentemente presente no genoma do pulgão,  provavelmente por transferência lateral durante a evolução. 
A síntese abundante desses carotenoides em pulgões sugere um papel  fisiológico importante e desconhecido  muito além de suas clássicas  propriedades antioxidantes. 
O artigo relata a captura de energia luminosa durante o processo  metabólico por meio da foto transferência de elétrons induzida a partir  de cromóforos excitados. Os potenciais de oxirredução das moléculas  envolvidas neste processo seriam compatíveis com a redução do NAD +  coenzima. Em, outras palavras, um sistema fotossintético – que mesmo  sendo rudimentar – é capaz de utilizar esses elétrons foto-emitidos no  mecanismo mitocondrial a fim de sintetizar moléculas de ATP, ou seja,  fornecer energia útil para sustentar o organismo em seu ciclo vital.
Além de modificar os conceitos clássicos em nossas aulas de Biologia  essa descoberta promete elucidar, entre outros enigmas da ciência  moderna, a forma como a vida tem evoluído em nosso planeta.